Lisboa cimentou, este ano, uma relação com o Tech World. Refiro-me, claro, à Web Summit, onde tive a oportunidade de estar presente no passado dia 9 de novembro. A iniciativa pôs a capital portuguesa no mapa do mundo digital, trazendo à cidade uma infinidade de empresas – de start-ups a big sharks – e um ainda maior volume de visitantes.
O primeiro-ministro, António Costa, discursou na sessão de abertura, referindo-se a Portugal como “um país dinâmico, progressista e aberto aos negócios”. Dois dias depois, na sequência da vitória de Donald J. Trump nas eleições presidenciais norte-americanas, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) colocou cartazes alusivos ao espírito de uma cidade que “constrói pontes, não muros”, sublinhando esta ideia de abertura e dinamismo.
A vitória de Trump, que continua a fazer correr tinta por todo o mundo, esteve, naturalmente, presente também na Web Summit. Na palestra US elections fallout foi visível o descontentamento do painel face à vitória do candidato republicano. Segundo Shailene Woodley, atriz norte-americana, “este é um assunto internacional”. Owen Jones, jornalista inglês, fez referência à situação do seu próprio país (Brexit) e afirmou ser “assustador que a maioria dos votantes tenha apoiado uma pessoa racista e misógina”. Ressalvou, contudo, que esta realidade não corresponde ao todo dos EUA, fazendo referência a uma “outra América”, aquela “que acabou com a escravatura, a América das suffragettes e de Martin Luther King.” Bradley Tusk rematou com um otimista “we will be ok.”
Outro dos grandes temas do evento foi a segurança online. Alex Stamos representou o Facebook na palestra Designing Security and Safety for Billions, e durante vinte minutos expôs as preocupações da empresa de Zuckerberg com a segurança dos seus utilizadores (que, no terceiro quartel deste ano, rondavam os 1.79 biliões). “Os hackers trocam passwords entre si”, alertou, numa tentativa de sensibilizar os utilizadores para importância dos mecanismos de user autentication. A empresa já tinha agitado o mercado no dia anterior, ao anunciar a plataforma Messenger 1.3, que permite às marcas entrarem diretamente em contacto com o consumidor.
Seguiram-se inúmeras outras palestras, desde Autonomous Driving in 2021 pela BMW até à otimista Space Won’t Be The Final Frontier, mas a estrela do dia foi indubitavelmente a apresentação de Ben Goertzel, que expôs in loco os frutos do seu trabalho na área da inteligência artificial. Sophia, uma humanoide programada para responder às perguntas do criador, surpreendeu de tal forma a plateia que se sentiu uma certa tensão no ar relativamente às potencialidades desta indústria. Sophia e os seus semelhantes serão, em breve, capazes de desenvolver trabalho autónomo na área da programação, bem como no ensino de crianças em idade escolar.
Efetivamente, a Web Summit levantou uma série de questões pertinentes acerca do mundo – como o conhecemos e como o projetamos. O futuro está à porta, e até 2018 será discutido na nossa capital.